sexta-feira, 6 de junho de 2008

Direto do túnel do tempo...

Outro dia estava fuçando na Internet e achei um blog que mantinha com uns amigos há muito tempo atrás. Chamava BLOGAÇA (hahahaha). Era uma fase meio maluca, em que eu tinha uma vidinha, digamos, mais agitada do que hj. rss.
Esse texto conta uma passagem que rolou em uma viagem que fiz pra Itacaré, em 2005. E relendo o que eu escrevi achei beeem engraçado. Como a idéia desse blog aqui é colocar textos bacanas de outras pessoas e algumas coisinhas minhas tb, resolvi postar de novo. Gosto dele e enfim... tá aí. :)

JERIBUCA O QUÊ?

Confesso: sou do tipo que adora turismo ecológico. Quer dizer, adora também é demais, pq aí seria exagero e uma grande mentira. E como diz minha boa mãe, “Mentir é feio, menina!”. De qualquer forma, simpatizo com a natureza e gosto até de umas trilhazinhas (apesar de ser fumante confessa e convicta e sempre ficar arfante do meio da trilha para o fim).
Mas, na minha lista de lugares já visitados, consta uma bem-sucedida ida para Bonito (onde não fiz feio, se me permitem o trocadilho infame) e uma breve passagem por Cajaíba, com uma boa turma de amigos, onde fiz trilhas e tomei banhos gelados todos os dias. Mas confesso que este ano havia decidido não me aventurar por lugares ermos e encarar umas férias mais confortáveis, pagas, como todo bom proletário, em suaves prestações.
Isso posto e decidido, resolvi que o destino de 2005 seria Itacaré, na Bahia. Não sei por que tive a impressão de que teria férias sossegadas e nada aventureiras. Talvez porque não tenha lido NADA sobre a cidade, que figura em 10 de 10 listas de destinos ecológicos recomendados. Descobri isso ao chegar à localidade, muito linda por sinal. Logo de cara, fui informada dos perrengues, mas como sou uma pessoinha sussas e já estava lá mesmo, resolvi que tudo que viesse era lucro e me lancei de bom grado nos passeios oferecidos. Tudo ia bem, até o dia em que topei o passeio a uma tal praia de Jeribucaçu (nome que, graças à minha leseira, não conseguia repetir de jeito nenhum). No roteiro, uma caminhada de 35 minutos por uma trilha íngreme. A promessa era uma praia paradisíaca, onde ficaríamos durante algumas horas vendo as ondas verdes do mar baiano e curtindo a natureza. Depois de três horas de praia, seguiríamos por uma trilha de mais 1 hora e meia para uma cachoeira magnífica. A volta seria feita no final do dia, por uma pequena trilha onde andaríamos menos de meia hora rumo à van que nos levaria de volta ao hotel. Vendo assim, nada muito assustador. Por isso, eu, intrépida e feliz resolvi abraçar o passeio acreditando que teria um dia inteiro de puro deleite.
Mal sabia eu que a caminhada de dia inteiro que eu havia feito no dia anterior deixaria lembranças em meu corpinho sedentário. Resultado: fui para Jeribucaçu literalmente QUEBRADA. Isso, originalmente, já seria um ponto contra meu constante bom-humor. Depois de andar meia hora embaixo de um sol de rachar o coco, chegamos à praia, que é realmente maravilhosa. Só que caminhadas costumam dar fome. E na praia há apenas umas barraquinhas improvisadas, onde é possível comprar tapioca ou cocada, além de breja quente e água. Optei pela água, pq cerveja quente ninguém merece.
Depois de três horas dizendo “Não, obrigada.” para criancinhas que queriam me empurrar uma cocada que mais parecia pé-de-moleque (que eu tive que comprar, já que a pequena vendedora começou a chorar na minha frente) comecei, faminta, a fazer a tal trilha de uma hora e meia. Primeira parada: MANGUEZAL. Não seria um grande problema, se eu não tivesse que andar meia hora na lama DESCALÇA, já que estava portando meu par de havaianas cor-de-rosa, levado ao local por pura desinformação. Depois de aguentar a cara de tiração de sarro do guia, que olhava para meus chinelinhos e previa que eles ficariam enterrados na lama ao primeiro passo, tomei coragem e encarei a parada descalça mesmo.
No fundo do rio, pedras e tocos de árvore, que deixaram meus pés em frangalhos. Depois de dar topadas incessantes por meia hora, saí do rio com as unhas dos pés cheias de lama e a promessa do guia que de ali por diante tudo iria melhorar. Começava então uma trilha de uma hora, cheia de insetos e com subidas e descidas intermináveis. Minha canga estava em petição de miséria, meus pés estavam nojentos e machucados e ainda tinha que ouvir a todo momento um “Você entrou no mangue descalça? Porquê? Que vacilo, hein?”. E meu bom-humor constante, já não tão constante assim, indo embora a cada resposta bem-educada que era obrigada a dar. Depois de quase enfartar durante uma subida na trilha (devido ao já citado hábito do fumo), chegamos, enfim, à tão sonhada cachoeira.
Neste momento, lembrei que tinha um estômago. E que ele estava vazio desde às sete horas da manhã. (Ah, antes que eu me esqueça, já eram 3 da tarde). A cachoeira era realmente maravilhosa, então, resgatei minha última cota de bom humor e decidi: “Vou aproveitar”. Mergulhei na água e esqueci da vida. Por 20 minutos, já que meu guia começou a reunir o grupo 25 minutos depois de chegarmos lá. Eu havia andado o dia todo pra chegar a uma cachoeira maravilhosa e quando isso acontece, tinha apenas 20 MINUTOS para aproveitar. E ainda pra completar, tinha aquele guia com uma cara feliz, em que era possível ler “Hahahahaha. Otária!!!!”.
Respirei fundo, me enrolei na canga molhada e suja, momento em que lembrei dos pés machucados e da barriga vazia, e recomecei a caminhar. Neste momento, mais uma desilusão. A trilha de volta também era uma subida íngreme, também feita embaixo do sol, na qual eu também quase enfartei. Chegando à maldita van, tive que aguentar de novo a cara feliz do guia, que, de forma muda, zombava da minha desgraça. Relevei mais esse percalço e entrei corajosa no veículo. Meu estômago vazio roncava, meus pés doíam e a dobradinha canga molhada + ar-condicionado me fazia sentir um frio do cão (e eu estava na Bahia...). Mas, mais uma vez pensei: “Deixa de ser mala. Já está terminando”. Suspirei, fechei os olhos e tentei abstrair. Foi quando senti cheiro de Cheetos. Alguém havia aberto um pacote de salgadinho de queijo dentro da van!!!!! Em mim, um misto de revolta e alegria histérica, já que muita fome costuma nos deixar irracionais. Foi quando notei que, ao meu lado, uma garota degustava feliz a iguaria, que, aliás, ela não ofereceu para ninguém. Foi mais meia hora de tormento.
Nunca cheguei tão feliz a um hotel. No saguão, o garoto da companhia de viagens, também sorridente, me esperava para propor o passeio do dia seguinte. “Trata-se de uma CAMINHADA DE UMA HORA PARA UMA PRAIA DESERTA E PARADISÍACA. A trilha é íngreme, mas depois de hoje, será moleza”. No rosto dele, um sorriso largo, onde eu li, mais uma vez: “Hahahahaha. Otária!!!!”. Foi a última gota. Com lágrimas nos olhos, saí correndo (ou quase isso) para o meu quarto.
Mas me aguardem. Para o ano que vem eu já decidi: nada de lugares paradisíacos. Mereço um descanso em alguma selva-de pedra pelo mundo afora. Bom, mas isso é outra história, que vou pensar assim que acabar de pagar a minha maratona de férias parcelada....

Por Val Borges in Tuesday, March 29, 2005

Um comentário:

Dani disse...
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