domingo, 26 de agosto de 2007

ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

(manuel bandeira)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Vamos fugir... pra esse lugar, baby...


ponta negra 111.jpg, upload feito originalmente por Val Borges.

Meuuuuu, que saudades dessa vista.

Mato, mar e praia. Combinação perfeita.

Quero muuuuito!

AMO! :-)

Sobre mudanças...

MUDE (Edson Marques)

Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos
o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas
com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Depois,
procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de TV,
compre outros jornais,
leia outros livros,
Viva outros romances!
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos,
novas cores,
novas delícias.
Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde
ou vice-versa.
Escolha outro mercado,
outra marca de sabonete,
outro creme dental.
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.
Troque de bolsa,
de carteira,
de malas.
Troque de carro.
Compre novos óculos,
escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que
a Vida é uma só.
Arrume um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.
Se você não encontrar
razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer
uma viagem despretensiosa,
longa,
se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá
coisas melhores e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda!

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Auxílio precioso - Ou Com os amigos participando é mais bacana :-)

O POST ABAIXO É UMA PRECIOSA CONTRIBUIÇÃO DA MINHA AMIGA QUERIDA ADRIANA TINTORI. VAI NA ÍNTEGRA. VALEU DRI :-)

Não sei por que isso acontece, mas toda vez que penso concentradamente num assunto e não consigo chegar a uma conclusão, depois de um tempo me vem à mente alguma música que tenha a ver com ele. Assim, do nada. E como um passe de mágica, parece que tudo faz sentido.

Essa é para compartilhar com aquelas cujas fichas demoraram a cair.

Se é para acabar, que seja com samba!

Com a palavra, ninguém menos do que Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

Mulher sempre mulher

Mulher, ai, ai, mulher
Sempre mulher
Dê no que der
Você me abraça, me beija, me xinga
Me bota mandinga
Depois faz a briga
Só pra ver quebrar
Mulher, seja leal
Você bota muita banca
Infelizmente eu não sou jornal

Mulher, martírio meu
O nosso amor deu no que deu
E sendo assim, não insista
Desista, vá fazendo a pista
Chore um bocadinho
E se esqueça de mim
E se esqueça de mim

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Dura na Queda (êta título pertinente, sô...)

Eu adoro essa música que segue aí embaixo.
É do Chico, meu amorrrrr, e foi gravada pela Elza Soares no disco "Do coccix até o pescoço", de 2002. A gravação da Elza é um poder e a letra é linda.
Combina com a fase atual, combina com a filosofia de vida, combina com o Sol que está lá fora (graças a Deus a friaca dos últimos dias está dando uma folga).
Vale a pena.
Tá aí:

Dura na queda (Ela desatinou nº2)
Chico Buarque

Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do Carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural
Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade sim
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas

Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir
Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

About August....

Mais uma contribuição preciosa do querido Celso para este humilde blog... :-)

"Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados. Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto”.
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Noções

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

(Cecília Meireles)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

“Vai ser”...

Passei os últimos anos da minha vida com os olhos no “vai ser”...
O presente não era bom, o passado já era longe
E então eu voltava minha atenção e energias para o “vai ser”...
O jardim do outro era mais bonito porque o outro era mais bacana e merecedor
Por essas e outras deixei, por muito tempo, de cultivar meu próprio jardim
Pensava no que viria, esse tempo em que, enfim, a vida seria cor-de-rosa
Aí, então, quando o “vai ser” virasse “já é” daria todas as atenções para meu jardim e para as minhas flores
– essas flores que amo tanto e levo na alma e no corpo pra sempre –
Nesse tão esperado tempo haveria tempo pra tudo
Para os meus desejos, meus anseios
Meus saltos, minhas coisas
Porque no “vai ser” a vida é sempre mais vida
Minha imaginação fértil sempre construiu o melhor “vai ser” de todos
E lá plantava e replantava meus sonhos...

Só que o “vai ser” não chegou
Porque o “vai ser” NUNCA CHEGA
O que eu tenho é o “já é”, o “é agora”, o “demorou”
É nesse tempo em que as melhores coisas são construídas

Depois de anos de tentativas e erros, e mais tentativas e mais erros, acho que cheguei no “agora mesmo”

É daqui que posso colorir o mundo e tentar fazê-lo melhor
O meu mundo
O seu mundo
O nosso mundo
O mundo todo

Para quando o “vai ser” chegar, meu “foi ontem” seja uma lembrança boa e quente...


Val Borges

Parece pintura, né?


Parece pintura, né?, upload feito originalmente por Val Borges.

Nem verão, nem inverno.

Minha estação é o outono. Sempre o outono.

Com suas cores e suas folhas.

Encaro até o friozinho... Mas pouco.

Olha só isso!!!!


Chile100, upload feito originalmente por Val Borges.

Pra marcar o retorno em grande estilo, segue um pouquinho de Viña del Mar, no Chile. Um pouco de imagem pra dar uma quebrada em tanta letra nessa página.
:-)

Depois de um longo e tenebroso inverno...

... cá estou, de volta à ativa.
Longo e tenebroso inverno mesmo. Porque por aqui, em São Paulo, andou fazendo um frio inacreditável.
E frio é aquela coisa.... Deixa todo mundo meio assim, meio chocho, meio encolhido, sem jeito, meio.... meio pela metade.
Mas enfim, estava na hora de retomar o projeto blog. E com força total. Vamos ver se agora a pessoa consegue ter um mínimo de disciplina. Taí uma coisa que eu não tenho: disciplina. Vamos ver se funciona agora. Vamos ver o que rola. Vamos ver.
:-)

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Este post abaixo surge por um motivo excepcional. Achei esse texto AGORA, remexendo as minhas coisas e resolvi colocar. É um texto do Nietszche fala de algo que todo mundo já viveu: o fim de uma amizade, sentimento que em extensão refere-se a todas as relações. Elas acabam por isso, pq "mares e sóis diferentes" nos fazem mudar. Belo texto. Está aí pra vcs....

Amizade de Astros

“Éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro.
Mas é bom que seja assim, e não procuraremos dissimular nem disfarçar, como se devêssemos ter vergonha disso.
Como dois navios que seguem cada um seu rumo e seu próprio objetivo, assim, sem dúvida, poderemos nos encontrar e celebrar festas entre nós, como já fizemos antes – e então, os bons navios repousavam lado a lado, no mesmo porto, sob o sol, tão tranqüilos que se poderia dizer que já tinham chegado ao seu objetivo e tivessem tido a mesma destinação.
Mas, em seguida, o apelo irresistível da nossa missão nos levaria de novo para longe um do outro, cada um sobre mares, rumo a paragens, sob sóis diferentes – talvez para nunca mais nos revermos, talvez para nos revermos uma vez mais, mas sem nos reconhecermos: mares e sóis diferentes provavelmente nos fizeram mudar!”


(Amizade de Astros – Nietszche)

terça-feira, 17 de abril de 2007

Coisas que fazem a vida valer a pena :-)

Minha amiga Ana Paula anda feliz da vida. E gente feliz vê o mundo de um jeito mais bonito, né? É nessas horas que surgem imagens como essa acima. Um Solzão de desenho dando bom-dia pra um casal apaixonado que eu conheço...

Um nascer do Sol desses lindos que a gente encontra nessa vida
By Ana Paula Barboza

sexta-feira, 30 de março de 2007

Mais Clarice....

Meu amigo Celso é um dos grandes colaboradores desse blog. Com os e-mails semanais que ele manda com belos textos escolhidos entra com matéria-prima pra embelezar essa página. O desta semana é um da Clarice, sempre ela.
Segue abaixo...
Be enjoy!

Como tratar o que se tem

Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa sua, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa que não tenha medo do que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas uma vez chamado com doçura e autoridade ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesmo que está relinchando de prazer ou de cólera.
Clarice Lispector

segunda-feira, 19 de março de 2007

Verdade inventada? É é isso mesmo...

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
Clarice Lispector

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

“Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida”.

Clarice Lispector

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Depois de um longo e tenebroso inverno....

.... cá estou, de volta ao trabalho. Passei uns dias sem postar, mas mando uma boa do Quintana que meu querido amigo Celso me mandou:

“Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.”
Mário Quintana


bom, com certeza é basicamente isso. :-)

domingo, 4 de fevereiro de 2007

4º Motivo da rosa (Cecília Meireles)

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
"... Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra ˜ talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou. Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto... Mas desde o princípio alguma coisa ˜ fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois (...) Para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los ˜ ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam."
Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Luz é vida.... é pulsação...

Foto by Claudia Marques

um dos meus Vinícius favoritos...

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

Para uma menina com uma flor (Vinícius de Moraes)
Do livro "Para uma menina com uma flor" (Crônicas)

senhorita chuva
me concede a honra
desta contradança
e vamos sair
por esses campos
ao som desta chuva
que cai sobre o teclado

DANÇA DA CHUVA (Paulo Leminski)
do livro Caprichos & Relaxos

E pra começo de conversa... Drummond

O MUNDO É GRANDE
(Carlos Drummond de Andrade)

O mundo é grande
E cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande
E cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande
E cabe no breve espaço de beijar.

Mas por quê?

Numa época em que já não conseguimos imaginar a vida sem os recursos do mundo virtual, blog virou uma coisa comum. Todo mundo tem blog sobre tudo: culinária, política, economia, moda, beleza, e sobre o nada. Principalmente sobre o nada. Então porque criar mais um? Talvez por isso mesmo. Hoje ter um blog já não é nada muito especial. Então manter um espaço virtual não vai chamar muita atenção mesmo. O ALIMENTO DA ALMA nasce para ser um canto pra respirar. Sou apaixonada por belas palavras e aqui vou guardar aquelas que mais me chamarem atenção. Textos que me tocam, e se me tocam podem também tocar outras pessoas. Talvez não chame a atenção. Mas vai ser um lugar prático pra guardar um pouquinho de beleza criada por gente que eu admiro, inclusive, ou melhor, principalmente, dos amigos. E talvez, quem sabe, quando pintar coragem, umas coisinhas próprias também...