quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Conselho do dia...


Quase todos os dias acesso um site que eu amo: www.personare.com.br. Adoro ler o horóscopo lá, tirar minha cartinha de tarot e saber os conselhos dos astros para meu dia.
Fiz isso hoje e AMEI o que saiu. Na verdade, essa mesma carta vem saindo há dias. Depois de tirá-la pela quarta vez, achei que era um sinal e resolvi que ia escutar o conselho. E aproveitei para postar uma imagem da página aqui. Afinal de contas, dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, né? ;)

domingo, 24 de agosto de 2008

Por aí? Não vou. Obrigada.

CÂNTICO NEGRO
(JOSÉ RÉGIO)

"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!

Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...


Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...


Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.


E pra completar, a divina Bethania declamando
o mesmo Cântico... (1982)

domingo, 3 de agosto de 2008

porque o melhor é não acreditar no impossível...

esse final de semana estava cobrando um amigo sobre atualizações no blog dele (do qual, aliás, gosto muito) e ele gentilmente me lembrou que fazia um bom par de dias que eu não passava por aqui. resolvi tomar vergonha na cara e retomar o trabalho. no meio disso tudo lembrei de um texto lindo, lindo que uma amiga me apresentou. é do manoel de barros. adoro e é ele que posto. :)

O menino que carregava água na peneira (manoel de barros)
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

vagabundo?... será?...

CORAÇÃO VAGABUNDO
Caetano Veloso

Meu coração não se cansa
de ter esperança
de um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
não é só a lembrança
de um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
quer guardar o mundo
em mim
Meu coração vagabundo
quer guardar o mundo
em mim

terça-feira, 22 de julho de 2008

prato do dia

Menu de hoje: uma música, uma foto e.... um desejo? :P

Anunciação
(alceu valença)

Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo peito nu cabelo ao vento
E o sol quarando nossas roupas no varal
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
A voz de um anjo sussurrou no meu ouvido
E eu não duvido já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais


l
"luz e sombra" - por val borges

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Reflexões sobre o amor que realmente valem a pena

Estava dando uma olhada na Internet e me deparei com um site muito legal chamado "Minha Pretinhosidade". Ainda não posso dar uma opinião muito concreta sobre a página, pq não tive tempo suficiente para explorá-la. De qquer forma, já gostei do que eu vi. Principalmente de um post específico, onde o autor fala sobre o amor. É um post feito no dia 12 de junho, pro Dia dos Namorados.
Tomo a liberdade de reproduzi-lo abaixo, dando os devidos créditos para o autor, que no blog assina como Pretinhosidade. Gostei mesmo do que eu li. E, definitivamente, o site vale a visita.
Fica o post, na íntegra, do jeitinho que o autor escreveu:

"Hahahaha... dia dos namorados... 7 pontos de vista sobre relacionamentos.
Jun 12, '08 12:33 PM for everyone

1- Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:
'Ah, terminei o namoro... '
'Nossa, quanto tempo?
''Cinco anos... Mas não deu certo... Acabou.
È não deu...
'Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

2- Hoje, no alto dos meus 27 anos, não acredito muito os 'opostos se atraem'.
Porque sempre uma parte vai ceder muito e se adaptar demais.
E sempre esta é a parte mais insatisfeita.
Acredito mais em quem tem interesse em comum.
Se você adora dançar forró, melhor namorar quem também gosta, se você gosta de cultura italiana, melhor alguém que também goste.
Freqüentar lugares que você gosta ajuda a encontrar pessoas com interesses parecidos com os teus.
A extrovertida e o careta, anti-social é complicado e depois, entra naquela questão de' um querer mudar o outro,ui.! Pessoas mudam quando querem. E porque querem. E pronto. E demora!

3- Cama é essencial!
Aliás, pele é fundamental. E tem gente que é mais sexual, outras que são mais tranqüilas. O garanhão insaciável e donzela sensível, acho meio estranho. Isto causa muitas frustrações e dá-lhe livros de auto ajuda sobre sexo.
Assim como outras coisas, cada um tem um perfil sexual.
Cheiro , fantasias, beijo, manias, quanto mais sintonia, melhor.

4- Não acredito em pessoas que se complementam.
Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos esta coisa completa. As vezes ela é fiel, mas não é bom de cama.
As vezes ela é carinhosa , mas não é fiel.
As vezes ela é atencioso , mas não é trabalhador.
As vezes ela é malhada, mas não é sensível.
Tudo nós não temos.
Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.

5- Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.
E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate...se joga...senão bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta.

6- Se ele ou ela não te quer mais ,não force a barra.
O outro tem o direito de não te querer.
Não lute, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto.
Ele titubeia, tem dúvidas e medos
Mas se a pessoa REALMENTE gostar,ela volta.
Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem , gravidez, dinheiro, pressão de família?
O legal é alguém que está com você por você. E vice versa. Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda,a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

7- Gostar dói.
Você muitas vezes vai ter raiva,ciúmes, ódio , frustração.
Faz parte. Você namora um outro ser ,um outro mundo e um outro universo.
E nem sempre as coisas saem como você quer...
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal,você não é terapeuta.
Se não quer se envolver, namore uma planta.È mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar.Ou se apaixonar.Ou se culpar.
Enfim...quem disse que ser adulto é fácil?

E aí lembra de Camões? devia estar de brincadeira esse português... rs.
Amor é fogo que arde sem se;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões
Fonte: Flávia Odara. nega tudo haver isso aqui
"

FONTE: MINHA PRETINHOSIDADE (http://pretinhosidade.multiply.com/)

domingo, 20 de julho de 2008

Dica bacana

Vou abrir uma exceção e dar aqui o endereço de um site muito legal que, no fim das contas, tb alimenta a alma. Pelo menos a minha...
Uma amiga minha está trabalhando num projeto que achei muito legal. É um site chamado asboasnovas.com. O que eu gosto nesse site é o fundamento : só falar de coisas boas. Eles só postam notícias positivas, mas em babaquice. Acho uma ótima alternativa em tempos tão loucos como os que vivemos. É bom lembrar que ainda rolam coisas bacanas no mundo.
Então, fica a dica : http://projetoasboasnovas.blogspot.com.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

POEMA DE SETE FACES (Carlos Drummond de Andrade)

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ah.... Francisco....

Estou dando uma força na peça de um amigo meu, diretor de teatro super talentoso chamado Renato Andrade. Sou a moça do som e "palpiteira oficial". rsrsrs. Na minha empreitada de moça do som, estava dando uma pesquisada numas outras opções de música pra sugerir pra ele, apesar da trilha já estar super redonda (e linda!). E nessas minhas pesquisas, reencontrei uma música do Chico Buarque que eu AMOOOOOO!!!!!!!!!!!!
A letra segue abaixo. Linda e inteira. Ela fala por si mesma. Procurei um vídeo do Milton Nascimento cantando (foi ele que gravou pela primeira vez no álbum O Grande cCirco Místico, de 1981). Não encontrei, mas achei um vídeo da Monica Salmaso interpretando essa maravilha. Está meio tremido, mas a interpretação dela é TUUUUDO. Segue também.

Beatriz
Composição: Edu Lobo/Chico Buarque

Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz

Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha
Será que ela é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida


sexta-feira, 13 de junho de 2008

Cheers!

Nenhuma elocubração.
Só uma música.
E tudo já estará dito.

Cheers! :)


SAÚDE
(Rita Lee / Roberto de Carvalho)

Me cansei de lero-lero

Dá licença mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar opiniões
De como ter um mundo melhor
Mas ninguém sai de cima
Nesse chove-não-molha
Eu sei que agora
Eu vou é cuidar mais de mim!

Como vai, tudo bem
Apesar, contudo, todavia, mas, porém
As águas vão rolar
Não vou chorar
Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais
Mas enquanto estou viva
Cheia de graça
Talvez ainda faça
Um monte de gente feliz!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Direto do túnel do tempo...

Outro dia estava fuçando na Internet e achei um blog que mantinha com uns amigos há muito tempo atrás. Chamava BLOGAÇA (hahahaha). Era uma fase meio maluca, em que eu tinha uma vidinha, digamos, mais agitada do que hj. rss.
Esse texto conta uma passagem que rolou em uma viagem que fiz pra Itacaré, em 2005. E relendo o que eu escrevi achei beeem engraçado. Como a idéia desse blog aqui é colocar textos bacanas de outras pessoas e algumas coisinhas minhas tb, resolvi postar de novo. Gosto dele e enfim... tá aí. :)

JERIBUCA O QUÊ?

Confesso: sou do tipo que adora turismo ecológico. Quer dizer, adora também é demais, pq aí seria exagero e uma grande mentira. E como diz minha boa mãe, “Mentir é feio, menina!”. De qualquer forma, simpatizo com a natureza e gosto até de umas trilhazinhas (apesar de ser fumante confessa e convicta e sempre ficar arfante do meio da trilha para o fim).
Mas, na minha lista de lugares já visitados, consta uma bem-sucedida ida para Bonito (onde não fiz feio, se me permitem o trocadilho infame) e uma breve passagem por Cajaíba, com uma boa turma de amigos, onde fiz trilhas e tomei banhos gelados todos os dias. Mas confesso que este ano havia decidido não me aventurar por lugares ermos e encarar umas férias mais confortáveis, pagas, como todo bom proletário, em suaves prestações.
Isso posto e decidido, resolvi que o destino de 2005 seria Itacaré, na Bahia. Não sei por que tive a impressão de que teria férias sossegadas e nada aventureiras. Talvez porque não tenha lido NADA sobre a cidade, que figura em 10 de 10 listas de destinos ecológicos recomendados. Descobri isso ao chegar à localidade, muito linda por sinal. Logo de cara, fui informada dos perrengues, mas como sou uma pessoinha sussas e já estava lá mesmo, resolvi que tudo que viesse era lucro e me lancei de bom grado nos passeios oferecidos. Tudo ia bem, até o dia em que topei o passeio a uma tal praia de Jeribucaçu (nome que, graças à minha leseira, não conseguia repetir de jeito nenhum). No roteiro, uma caminhada de 35 minutos por uma trilha íngreme. A promessa era uma praia paradisíaca, onde ficaríamos durante algumas horas vendo as ondas verdes do mar baiano e curtindo a natureza. Depois de três horas de praia, seguiríamos por uma trilha de mais 1 hora e meia para uma cachoeira magnífica. A volta seria feita no final do dia, por uma pequena trilha onde andaríamos menos de meia hora rumo à van que nos levaria de volta ao hotel. Vendo assim, nada muito assustador. Por isso, eu, intrépida e feliz resolvi abraçar o passeio acreditando que teria um dia inteiro de puro deleite.
Mal sabia eu que a caminhada de dia inteiro que eu havia feito no dia anterior deixaria lembranças em meu corpinho sedentário. Resultado: fui para Jeribucaçu literalmente QUEBRADA. Isso, originalmente, já seria um ponto contra meu constante bom-humor. Depois de andar meia hora embaixo de um sol de rachar o coco, chegamos à praia, que é realmente maravilhosa. Só que caminhadas costumam dar fome. E na praia há apenas umas barraquinhas improvisadas, onde é possível comprar tapioca ou cocada, além de breja quente e água. Optei pela água, pq cerveja quente ninguém merece.
Depois de três horas dizendo “Não, obrigada.” para criancinhas que queriam me empurrar uma cocada que mais parecia pé-de-moleque (que eu tive que comprar, já que a pequena vendedora começou a chorar na minha frente) comecei, faminta, a fazer a tal trilha de uma hora e meia. Primeira parada: MANGUEZAL. Não seria um grande problema, se eu não tivesse que andar meia hora na lama DESCALÇA, já que estava portando meu par de havaianas cor-de-rosa, levado ao local por pura desinformação. Depois de aguentar a cara de tiração de sarro do guia, que olhava para meus chinelinhos e previa que eles ficariam enterrados na lama ao primeiro passo, tomei coragem e encarei a parada descalça mesmo.
No fundo do rio, pedras e tocos de árvore, que deixaram meus pés em frangalhos. Depois de dar topadas incessantes por meia hora, saí do rio com as unhas dos pés cheias de lama e a promessa do guia que de ali por diante tudo iria melhorar. Começava então uma trilha de uma hora, cheia de insetos e com subidas e descidas intermináveis. Minha canga estava em petição de miséria, meus pés estavam nojentos e machucados e ainda tinha que ouvir a todo momento um “Você entrou no mangue descalça? Porquê? Que vacilo, hein?”. E meu bom-humor constante, já não tão constante assim, indo embora a cada resposta bem-educada que era obrigada a dar. Depois de quase enfartar durante uma subida na trilha (devido ao já citado hábito do fumo), chegamos, enfim, à tão sonhada cachoeira.
Neste momento, lembrei que tinha um estômago. E que ele estava vazio desde às sete horas da manhã. (Ah, antes que eu me esqueça, já eram 3 da tarde). A cachoeira era realmente maravilhosa, então, resgatei minha última cota de bom humor e decidi: “Vou aproveitar”. Mergulhei na água e esqueci da vida. Por 20 minutos, já que meu guia começou a reunir o grupo 25 minutos depois de chegarmos lá. Eu havia andado o dia todo pra chegar a uma cachoeira maravilhosa e quando isso acontece, tinha apenas 20 MINUTOS para aproveitar. E ainda pra completar, tinha aquele guia com uma cara feliz, em que era possível ler “Hahahahaha. Otária!!!!”.
Respirei fundo, me enrolei na canga molhada e suja, momento em que lembrei dos pés machucados e da barriga vazia, e recomecei a caminhar. Neste momento, mais uma desilusão. A trilha de volta também era uma subida íngreme, também feita embaixo do sol, na qual eu também quase enfartei. Chegando à maldita van, tive que aguentar de novo a cara feliz do guia, que, de forma muda, zombava da minha desgraça. Relevei mais esse percalço e entrei corajosa no veículo. Meu estômago vazio roncava, meus pés doíam e a dobradinha canga molhada + ar-condicionado me fazia sentir um frio do cão (e eu estava na Bahia...). Mas, mais uma vez pensei: “Deixa de ser mala. Já está terminando”. Suspirei, fechei os olhos e tentei abstrair. Foi quando senti cheiro de Cheetos. Alguém havia aberto um pacote de salgadinho de queijo dentro da van!!!!! Em mim, um misto de revolta e alegria histérica, já que muita fome costuma nos deixar irracionais. Foi quando notei que, ao meu lado, uma garota degustava feliz a iguaria, que, aliás, ela não ofereceu para ninguém. Foi mais meia hora de tormento.
Nunca cheguei tão feliz a um hotel. No saguão, o garoto da companhia de viagens, também sorridente, me esperava para propor o passeio do dia seguinte. “Trata-se de uma CAMINHADA DE UMA HORA PARA UMA PRAIA DESERTA E PARADISÍACA. A trilha é íngreme, mas depois de hoje, será moleza”. No rosto dele, um sorriso largo, onde eu li, mais uma vez: “Hahahahaha. Otária!!!!”. Foi a última gota. Com lágrimas nos olhos, saí correndo (ou quase isso) para o meu quarto.
Mas me aguardem. Para o ano que vem eu já decidi: nada de lugares paradisíacos. Mereço um descanso em alguma selva-de pedra pelo mundo afora. Bom, mas isso é outra história, que vou pensar assim que acabar de pagar a minha maratona de férias parcelada....

Por Val Borges in Tuesday, March 29, 2005

About Caio Fernando Abreu...

Já ouvi falar muito do Caio Fernando Abreu, mas nunca li nenhum livro dele.
Isso é uma vergonha, eu sei. Até pq, eu sempre tive vontade de ler. Mas ainda não li. Talvez por causa da minha mania de deixar alguns desejos pra depois. Talvez apenas por falta de oportunidade. Há uns dois meses recebi um lindo texto dele, que falava de começos. Era um momento em que se tentava começar algo. O que, efetivamente não aconteceu... Mas o texto é lindo, e a intenção no momento foi muito boa e, creio eu, sincera. Então, pra mim, o que restou foi o gosto bom na boca. E o lindo texto do Caio Fernando que posto aqui.
Porque, no final das contas, são essas pequenas coisinhas fofas que ficam mesmo, né?

Dois ou três almoços, uns silêncios. (CAIO FERNANDO ABREU)
Fragmentos disso que chamamos de "minha vida"

Há alguns dias, Deus – ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus –, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer – eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal – não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou – descuidado, também – em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

MULHER NEGRA (Léopold Sédar Senghor)

MULHER NEGRA (Léopold Sédar Senghor)

Mulher nua, mulher negra
Vestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!
Cresci à tua sombra; a doçura de tuas mãos acariciou os meus olhos.
E eis que, no auge do verão, em pleno Sul, eu te descubro,
Terra prometida, do cimo de alto desfiladeiro calcinado,
E tua beleza me atinge em pleno coração, como o golpe certeiro de uma águia.
Fêmea nua, fêmea escura.
Fruto sazonado de carne vigorosa, êxtase escuro de vinho negro, boca que faz lírica a minha boca
savana de horizontes puros,
savana que freme com as carícias ardentes do vento Leste.
Tam-tam escultural, tenso tambor que murmura sob os dedos do vencedor
Tua voz grave de contralto é o canto espiritual da Amada.
Fêmea nua, fêmea negra,
Lençol de óleo que nenhum sopro enruga, óleo calmo nos flancos do atleta, nos flancos dos príncipes do Mali.
Gazela de adornos celestes, as pérolas são estrelas sobre a noite da tua pele.
Delícia do espírito, as cintilações de ouro sobre tua pele que ondula
à sombra de tua cabeleira.
Dissipa-se minha angústia, ante o sol dos teus olhos.
Mulher nua, fêmea negra,
Eu te canto a beleza passageira para fixá-la eternamente,
antes que o zelo do destino te reduza a cinzas para alimentar as raízes da vida.


*************************************************************

O belíssimo texto acima é do intelectual africano Léopold Sédar Senghor. Ouvi falar de Senghor e desse texto durante uma oficina in-crí-vel sobre africanidades que fiz na PUC no ano passado. Chamava "Arca de Ébano" e era ministrada por um professor que eu adorei (e que, infelizmente, não faz parte dos quadros fixos da PUC. ah... a Academia...). Enfim, esse texto me tocou muito, porque foi a primeira vez que, como mulher negra, me vi retratada com tanta com tanta beleza e delicadeza em uma poesia.

Abaixo, segue uma breve biografia do autor, encontrada no site Net Saber. Vale a pena conhecer Senghor...


Leopold Sédar Senghor

Professor de instituto e de escola superior, poeta e filósofo, representou seu país na Assembléia Nacional Francesa entre 1946 e 1958. Foi um dos combatentes mais empenhados na independência de seu país, então uma colônia francesa, ainda que tenha advogado a manutenção dos vínculos econômicos e culturais. Entre 1959 e 1960, presidiu breve Federação do Mali (formada pelo Senegal e pelo atual Mali). Após a dissolução desta, tornou-se presidente do Senegal independente. Com o apoio do Partido Socialista Democrático, tentou, durante seu mandato como primeiro-ministro (1962 e 1970), melhorar as condições de vida da população, recorrendo à aplicação de um programa socialista moderado. Em 1980, renunciou tanto a seus cargos no partido como à liderança do país e aceitou a presidência da Internacional Socialista na África. A partir desse momento, consagrou-se mais intensamente à criação literária. Poesia e política surgem em sua obra como elementos da chamada "negritude", movimento do qual é o representante mais significativo, juntamente com Aimé Césaire, e que prega que a redescoberta pelos africanos de sua cultura constitui o caminho para o reconhecimento da própria identidade ("regresso às origens"). Aos 23 anos, Senghor foi o primeiro professor africano numa universidade francesa, tendo sido igualmente o primeiro intelectual negro a ingressar na Académie Française, em 1984.

O ETERNO RETORNO....

Passei um tempão sem passar por aqui... Sei lá porque...
Acho que foram muitas as razões... Talvez, a mais forte delas seja a preguiça mesmo. Tenho problemas com regularidade. Sempre tive. E manter um bom blog é questão de regularidade. Tem que alimentar sempre, manter bonitinho sempre, dar carinho sempre. Não fiz isso, né?
Mas gosto daqui, gosto desse espaço. E resolvi não desistir dele. Por isso.... Eis que surje o primeiro post de 2008 (NO MEIO DO ANO. hahahaha. peeeeada).
Well, tentemos voltar a alimentar a alma. Pelo menos a minha. rss.
Bora ver no que dá. Será que agora eu consigo? rsrsrsrs
Welcome back. :)


* e pra recomeçar de verdade.... o blog volta de carinha nova....