sexta-feira, 30 de março de 2007

Mais Clarice....

Meu amigo Celso é um dos grandes colaboradores desse blog. Com os e-mails semanais que ele manda com belos textos escolhidos entra com matéria-prima pra embelezar essa página. O desta semana é um da Clarice, sempre ela.
Segue abaixo...
Be enjoy!

Como tratar o que se tem

Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa sua, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa que não tenha medo do que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas uma vez chamado com doçura e autoridade ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesmo que está relinchando de prazer ou de cólera.
Clarice Lispector

segunda-feira, 19 de março de 2007

Verdade inventada? É é isso mesmo...

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
Clarice Lispector